Inspirado por recentes escândalos de corrupçao na Câmara municipal de Campinas, analisei alguns fatores fundamentais que precisam passar por mudanças radicais no nosso país.
Há muitas expectativas sobre a recente ascensão econômica do Brasil no sistema internacional. De fato, o país deixou de ser apenas um modesto coadjuvante regional e hoje é, consideravelmente, um dos principais atores do contexto global, e as expectativas de crescimento são relativamente boas. Contudo, o resultado produtivo do país, no futuro, resultará da junção de políticas suficientes e sustentáveis que sejam capazes de inovar em várias áreas de carência crônica que a maior nação latino americana sofre atualmente.
Até 20 anos atrás, mais de 53 milhões* de brasileiros não possuiam condições de ter uma vida digna, mergulhados na pobreza e na ignorância social, excluídos de qualquer tipo de acesso capaz de proporcionar alguma melhoria. Na época, foi introduzido o plano de reforma, previsto pelo Governo, em meio a crises de austeridade política, déficit público e corrupções exacerbadas da era Collor, projetando o futuro do país nos anos 2000. Hoje, as condições melhoraram, a miséria foi reduzida e afeta 8% da população, porém, o grau de ignorância e o analfabetismo funcional são problemas remanecentes e, seguramente, desafiadores para o país. Já está na hora de avançar com os investimentos em educação, os dados são pífios e, ainda, investe-se pouco nessa área, apenas 4,5% do PIB. O país ocupa um lugar humilhante nos rankings destinados a educação e, de longe, obtém um dos piores índices do continente. No mínimo, são necessarios 10% do PIB para combater o atraso da educação.
A realidade nos mostra que sem capacidade intelectual, o Brasil não deixará o status de nação terceiro mundista, dominada pela falta de uma política industrial eficaz, capaz de gerar tecnologia e transformações radicais em toda a sua estrutura. Além disso, não haverá mão de obra qualificada, havendo sempre mais pedreiros informais ao invés de engenheiros civis, ou então inúmeros professores indispostos ao ensino, guiados por insastifação profissional dessa área. Resultado: colapso do desenvolvimento.
A propósito, os escândalos de corrupção só nos mostram como a nossa sociedade está integrada num modelo construído pela insuficiência política e uma falta de planejamento social e urbano. Além do ensino básico, é preciso ensinar a governar e mudar a forma de como as coisas são instituidas no nosso país e, com certeza, a educação é um dos principais fatores para essa transformação. Os governos despotam um alto índice de administrações estúpidas, favoráveis as classes mais ricas, congestionando as nossas cidades; fechando-as em jaulas artificiais - os condomínios - ruptura social do desenvolvimento com desvios de verba pública, além da persistência errática de milhares de projetos mal feitos e inacabados. A maior prova são as obras da Copa de 2014** - estádios; aeroportos; mobilidade urbana; infra-estrutura das cidades - estarem atrasadas e algumas ainda nem começaram. Qual a razão de prevalecer essa medíocridade na organização? São Paulo é a sede mais atrasada de todas, sendo a cidade mais importante do país e está correndo o risco de ser excluída do direito de sediar os jogos. Para piorar, o evento é de caráter internacional, concedido ao Brasil desde 2007, ou seja, qual o sentido disso tudo? Não há administração adequada e, na primeira oportunidade, o país já acumula críticas e atitudes errôneas. Aliás, atitudes que são típicas de países puramente emergentes, sem uma política eficaz de planejamento.
Todavia, enxergo outro problema crônico da sociedade brasileira: a crise de existência. Não há nacionalismo. Em geral, poucos brasileiros acreditam na capacidade do próprio país e já assumem a fama de derrotados, influenciados pelo imperialismo cultural e a falta de patriotismo. Será que os valores nacionais estão atribuídos nessa insuficiência da nossa política?
Portanto, analiso um longo caminho que deve ser percorrido pelo Brasil. Os problemas sociais são os maiores adversários na ascenção do país a elite mundial, então por que não somar o bom desempenho econômico com uma melhor política de planejamento? Deixando de lado o "assistencialismo" e aplicando projetos práticos em prol do pleno desenvolvimento das camadas sociais. As melhorias já foram feitas, agora é preciso aprimora-las em ferramentas fundamentais para a real erradicação da ignorância, melhorando a injusta distribuição de renda dos brasileiros.
A educação, o nacionalismo e a falta de uma política suficiente são apenas alguns empecilhos do futuro brasileiro. Há, ainda, muitas etapas e necessidades a serem aplicadas em nosso contexto de transformação sociale e a realidade vai muito além dos limites do centro-sul brasileiro. Portanto, cada fator relaciona-se com o outro na corrida do desenvolvimento e esse processo de evolução só ocorrerá com a integridade dos interesses públicos e sociais.
*Dados retirados do livro "Brasil, Reforma ou Caos" - 1989
**Informações compiladas no sítio http://www.copa2014.org.br/